terça-feira, 5 de setembro de 2017

Em parecer duro, Secretaria de Tesouro destaca diversas fragilidades no Plano do RJ

Globo On:

Tesouro aponta fragilidades em acordo entre União e Rio e sugere medidas adicionais
Mesmo assim, o parecer é pela aprovação do compromisso que deve ser homologado nesta terça-feira

O Tesouro Nacional apontou uma série de fragilidades no plano apresentado pelo Rio de Janeiro para ingressar no Regime de Recuperação Fiscal. Em seu parecer sobre o pedido, a secretaria aponta ao menos nove problemas nas projeções apresentadas pelo governo estadual. Entre elas estão estimativas excessivamente otimistas de receitas que podem acabar não se concretizando. Os técnicos também sugerem medidas adicionais de ajuste fiscal. Mesmo assim, o parecer é pela aprovação do acordo. Ele era o documento que faltava para a concretização de um acordo entre União e Rio. A homologação será feita hoje à tarde numa cerimônia no Palácio do Planalto.
De acordo com o parecer do Tesouro, o estado apresentou um cálculo de juros nominais e amortizações de passivos que não está em linha com as estimativas da equipe econômica. O Rio também considerou premissas para crescimento das despesas abaixo da média histórica. Outro problema é que as projeções de arrecadação com alterações de alíquotas do ICMS de energia, telecomunicações, gasolina, cerveja e chope não são suficientes para que os cálculos sejam validados. O impacto projetado com o ICMS chega a R$ 854 milhões até 2023.
Além disso, as projeções para receitas de convênios de capital apontam repasses expressivos para 2018-2020 (média de R$ 410 milhões), sendo que os técnicos do Tesouro acreditam que “há um risco de elas não se concretizarem em virtude do cenário atual. Outra fragilidade está no fato de que o Rio apresentou uma estimativa de arrecadação com o programa Repetro (regime tributário favorecido para o setor de petróleo) - de R$ 250 milhões em 2018 e R$ 550 milhões entre 2019 e 2023 - que ainda depende de alterações na legislação federal. Além disso, os valores estimados para os impactos de auditoria da folha previdenciária precisam de aperfeiçoamento. Outra dificuldade é que a alteração do preço do gás em participações especiais foi estimada para resultar num ganho integral já em 2019. No entanto, o cronograma não foi definido pela ANP e seus efeitos podem ser aplicados de forma escalonada.
O Tesouro viu ainda problemas nas projeções de economia de gastos com o leilão reverso de restos a pagar. O Rio trabalhou com a possibilidade de conseguir um desconto bem acima da média histórica com esse tipo de medida. “Recomenda-se a utilização do percentual médio de descontos já obtidos anteriormente como melhor estimativa”, alertou o parecer do Tesouro. Já a securitização da Dívida Ativa - que renderia R$ 1,07 bilhão em 2017 e 2018 - também entrou nas projeções do estado, mas ainda está sob avaliação do TCE.
Além de apontar fragilidades, o Tesouro recomenda em seu parecer que o Rio adote cinco medidas adicionais para atingir o equilíbrio financeiro. As sugestões são: maior esforço de arrecadação com a extinção de mais desonerações e maior revisão de tributos; a extinção de mais empresas públicas; uma reforma do regime jurídico único dos servidores, o que contribuiria para a sustentabilidade financeira do estado; a demissão de comissionados e servidores ativos; e aumento da contribuição previdenciária com criação de contribuição para inativos acima do teto com alíquota extraordinária.
O parecer do Tesouro destaca: “Uma vez que a desestatização é uma prática essencial e eficiente não só para o equacionamento das contas públicas, mas também para o ganho de eficiência dos serviços ofertados à população e para adequação do tamanho do estado, essa categoria de medidas de ajuste poderia ser ampliada – passando a abranger a revisão da oferta de ensino superior”. Os técnicos também admitem que cortar cargos e demitir servidores são medidas de difícil implementação, mas que seriam importantes diante da situação do estado: “Apesar de ser uma medida de difícil implementação e de fortes impactos na prestação de serviços públicos, ela não deve ser descartada dada a gravidade da situação em que o estado se encontra”.
O acordo do Rio vai ser monitorado por um Conselho de Supervisão Fiscal. Assim, de acordo com o parecer do Tesouro, “caso ocorram desvios no plano, seja pela não implementação de propostas ou por desvios de projeções, o Conselho de Supervisão Fiscal vai propor medidas adicionais ou de compensação”. Pela proposta do estado, o equilíbrio fiscal será atingido no quinto ano de vigência do acordo.
Ao final do 3º ano, o estado deve recuperar sua capacidade de pagamento para despesas primárias. Em 2019, o resultado primário será um superávit de R$ 55,24 milhões e, em 2020, superávit primário de R$ 1,4 bilhões, frente a um déficit de R$ 9 bilhões para 2017.


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